segunda-feira, 2 de março de 2009

CONSCIENTE, INCONSCIENTE E PRÉ-CONSCIENTE - Parte 2

Cremos ser necessário iniciarmos este trabalho, fazendo uma distinção entre Consciente, Inconsciente e pré-Consciente. Segundo o Dicionário do Aurélio, consciente é o conjunto de processos e fatos de que temos conhecimento e que está claro em nossa mente. É tudo o que imediatamente nos vem à mente. Através do consciente sabemos claramente o que estamos fazendo. Quando falamos “Fulano é muito consciente do que faz”, estamos afirmando que aquilo que está sendo feito é feito com clareza. Ninguém em são juízo ficará pensando muito tempo para lembrar o seu próprio nome. Quando se pergunta pelo nome, imediatamente responde-se: meu nome é Fulano. Não precisamos parar e refletir sobre esta pergunta. Automaticamente vem à nossa mente o nosso nome. Isto é o nosso consciente. O consciente é organizado; tem coordenação, tudo sistematiza e está “arrumadinho” em nosso pensamento. O consciente é dono de si, a tal ponto que libera somente o que lhe interessa do inconsciente. Já observou que muitas vezes você gostaria de falar determinadas coisas, mas prefere “deixar para outra oportunidade”? Quando isto acontece, simplesmente o seu consciente bloqueou o inconsciente.
O inconsciente é um conjunto de processos e fatos que atuam sobre a conduta do indivíduo, quando a consciência não está vigilante. O inconsciente é mais complicado e obscuro, pois não podemos saber nada dele de forma direta. Poderíamos afirmar que o inconsciente é terra de ninguém, parafraseando Bertrand Russell em relação à Filosofia.
No inconsciente estão nossos pensamentos incontrolados e reprimidos. Porém ativos. Certamente já ocorreu que alguém ao lhe fazer uma pergunta a resposta não lhe vem de imediato. Inicia-se um processo de exercitar a mente, o que geralmente leva algum tempo para lembrar-se. O que ocorreu foi a busca desta informação que se encontrava no inconsciente. O nosso cérebro é como um arquivo contendo várias pastas às quais recorremos quando necessitamos de determinadas lembranças. É como um arquivo, com dezenas de pastas, distribuídas por diversos assuntos aos quais recorremos quando necessitamos. Assim o cérebro vai armazenando as informações recebidas, bastando somente procurarmos a pasta de que precisamos. Basta forçar a mente para que a lembrança saia do inconsciente para o consciente. Ao longo do tempo, o cérebro vai organizando e registrando as informações recebidas, sendo tudo catalogado, transformando-se em um grande acervo.
Ao contrário do consciente, o inconsciente é desorganizado; não está preso ao tempo e jamais adormece. Está sempre ativo. É oportuna neste momento uma citação, mesmo que longa, do psiquiatra Ivo Storniolo ao afirmar que Carl Gustav Jung, observando e analisando as histórias pessoais de seus pacientes, percebeu aspectos e facetas da psique que desafiavam os parâmetros até então desconhecidos. Jung descobriu que havia uma camada abaixo do consciente, o inconsciente, que se manifesta “nas fantasias e nos sonhos, remetendo a eventos e vivências, em geral esquecidos, da história passada da pessoa. Tal história se estendia para trás, chegando por vezes até o nascimento, muitas vezes aludido por imagens ou emoções simbólicas. É como se a história vivida pelo ser da pessoa estivesse contida dentro do inconsciente, de modo que este fosse o registro de sua vida pessoal. Hoje sabemos que tal registro começa já na vida intra-uterina: no seio da mãe a criança já ouve, entende, sente...”² Jung chamou esta camada de inconsciente pessoal. Este inconsciente, tão marcante e inerente ao ser humano, é bloqueado ou limitado pelo consciente.
O outro elemento a ser analisado é o que se convencionou chamar de pré-consciente. Este se localiza entre o consciente e o inconsciente, e tem a função de filtrar o que passa do inconsciente para o consciente. O consciente traz à tona o que quer, através do pré-consciente. O pré-consciente é um terreno intermediário entre o consciente e o inconsciente. É uma espécie de ponte por onde passam os conceitos, idéias, experiências, etc., que não são conscientes, mas podem ser trazidos à consciência por meio da memória. Basta um maior ou menor esforço e será suficiente para algumas informações do inconsciente chegarem ao consciente. São as nossas lembranças que estão aguardando o momento para passarem ao consciente. Vale aqui uma pergunta: por que o que está no inconsciente não pode passar livremente ao pré-consciente? A resposta é que existem duas barreiras que impedem que isso aconteça: são as censuras. Entre o inconsciente e o pré-consciente, está a primeira censura. Entre o pré-consciente e o consciente, está a segunda censura. A função delas é filtrar conteúdos. O psicólogo Jorge A. León elucida estes conceitos de uma forma bem prática. Diz ele: “A mente humana é semelhante a um imenso iceberg. Sete oitavos de seu volume estão debaixo da água, não se vêem. Há uma parte do iceberg que, pelo movimento das ondas, às vezes é possível ver, porém está oculto quando o mar está tranqüilo. Há uma outra parte do iceberg que sempre podemos ver, esta representa o consciente. Aquilo que não é possível observar com um simples olhar corresponde ao inconsciente. Entre ambos está o pré-consciente, ou seja, o que somente às vezes podemos ver”.³
No entanto, mesmo sendo filtrado ou limitado pelo consciente, é oportuno registrar que o inconsciente nunca é derrotado. Sempre estará esperando uma oportunidade de se manifestar. O inconsciente nunca se curva diante do consciente. Aliás, tanto o inconsciente, quanto o consciente são como “pessoas” dentro de nós mesmos. Podemos até mesmo ir contra a nossa consciência ou inconsciência, porém eles nunca se dobrarão diante da resolução que tomarmos, mesmo estando submissos. Estarão sempre esperando o momento de se manifestar. E há de chegar o momento em que o inconsciente se revelará.

SONHO, A FOTOGRAFIA DA PSIQUE - Parte 1

Psique “é o centro íntimo e espiritual do ser humano, aquilo em que o próprio ser humano é ele mesmo em si mesmo” (Kaurt Niederwimmer, citado por Anselm Grun, in Caminhos para a liberdade, Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2005, p.55).

INTRODUÇÃO
As linhas que se seguem procuram fazer uma análise do sonho em relação às Escrituras Sagradas, do Novo Testamento. Sabendo da importância que determinadas pessoas lhes atribuem, bem como as que ficam à mercê de seus sonhos, criando assim um mito ou dependência que não existe em torno do tema, procuraremos, de uma forma equilibrada e até mesmo normativa, trazer informações sobre o assunto.
Apresentaremos uma reflexão sobre princípios norteadores do sonho¹. Não avaliaremos os sonhos que as pessoas têm e, muito menos, aguçar mentes com interpretações para os ávidos em saber seus significados. Não encontramos no Novo Testamento nenhum exemplo de interpretação de sonhos. Temos somente os sonhos em si, isto é, como, quando e por que acontecem e com quem acontece.
É oportuno destacar que estaremos avaliando somente os sonhos ocorridos no Novo Testamento. Optou-se em não examinar os sonhos registrados no Antigo Testamento em função da amplitude que este trabalho tomaria, e também pela inserção destes sonhos numa cultura carregada de misticismo, tão própria dos orientais. Também foi considerado que os sonhos no Antigo Testamento tinham um caráter normativo e até mesmo ético para a sociedade de então, pois constatamos não somente os judeus, mas outros povos fazendo dos sonhos princípios normativos e que de certa forma fogem aos padrões exegéticos e doutrinários do Novo Testamento. Entendemos que o Novo Testamento deve ser o texto para norma, conduta e aplicação no dia-a-dia do cristão.